Cerca de 2.000 casais LGBTQ+ se casam na Tailândia após legalização do casamento homoafetivo
A Tailândia celebrou nesta quinta-feira (23) cerca de 2.000 casamentos LGBTQ+ com a entrada em vigor de uma lei que autoriza a união entre pessoas do mesmo sexo, uma novidade no sudeste asiático.
Dois conhecidos atores, Apiwat "Porsch" Apiwatsayree, de 49 anos, e Sappanyoo "Arm" Panatkool, de 38, chegaram vestidos com ternos bejes ao cartório de Bangcoc, onde receberam a certidão de casamento.
“Lutamos por isso durante décadas e hoje é um dia extraordinário, amor é amor”, disse Arm.
Ao mesmo tempo, as mulheres Sumalee Sudsaynet, de 64 anos, e Thanaphon Chokhongsung, de 59, se casaram em outro bairro da capital.
"Estamos muito felizes, esperamos dez anos por este dia", declarou Thanaphon.
“A legalização do casamento homoafetivo nos dignifica (...) Ela nos permite desfrutar dos mesmos direitos que os casais heterossexuais. Minhas emoções estão transbordando, não sei como expressá-las em palavras”, admitiu Sumalee.
A Tailândia é o primeiro país do sudeste asiático a autorizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o terceiro no continente asiático, depois de Taiwan e Nepal.
Enquanto isso, dezenas de casais LGBTQIA+ vestidos com trajes de casamento tradicionais e contemporâneos chegaram a um grande salão em um shopping para uma cerimônia coletiva organizada pela 'Bangkok Pride' e autoridades da cidade.
No local, havia fileiras de funcionários em mesas ajudando os casais a preencher formulários para se casar antes de receberem suas certidões. Centenas de casais eram esperados no evento.
- "Todos protegidos" -
A mulher transgênero Ariya "Jin" Milintanapa disse estar "entusiasmada" com a chegada deste dia, que esperou por duas décadas.
"Este dia é importante não só para nós, mas para nossos filhos. Nossa família finalmente será uma", afirmou.
A lei do casamento homoafetivo foi aprovada em junho e ratificada em setembro pelo rei Maha Vajiralongkorn.
A lei utiliza termos de gênero neutro em vez de "homens", "mulheres", "esposos" e "esposas", e concede direitos de adoção e herança aos casais do mesmo sexo.
Mais de 30 países já legalizaram o casamento homoafetivo, incluindo o Brasil e outras nações latino-americanas como Argentina, Colômbia, México e Uruguai.
Sua entrada em vigor na Tailândia marca o ponto culminante de anos de campanha de ativistas.
A primeira-ministra, Paetongtarn Shinawatra, declarou na semana passada: "Não importa o seu gênero nem a quem você ama, o amor não tem limites nem expectativas. Todos serão protegidos pelas mesmas leis."
A Tailândia tem fama internacional de tolerância com a comunidade LGBTQIA+ e pesquisas publicadas por veículos de comunicação locais revelam amplo apoio ao casamento homoafetivo.
Entretanto, grande parte deste reino de maioria budista mantém valores tradicionais e conservadores, e as pessoas sexualmente diversas dizem enfrentar obstáculos e discriminação em sua vida cotidiana.
A luta pelo casamento homoafetivo na Tailândia tem sido prejudicada pela frequente turbulência política no país, palco de golpes de Estado e protestos de rua em massa.
Siritata Ninlapruek, uma ativista LGBTQIA+, disse que essa tem sido uma batalha difícil e agridoce.
“Estou extremamente feliz, mas minha luta pela comunidade continua”, disse ela.
Ela citou a necessidade de reconhecimento da identidade de gênero além do sexo biológico.
“Seja homem, mulher ou não binário, as pessoas devem ter o direito de se identificar como quiserem”, disse Ninlapruek.
A.Meyer--MP