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Campanhas antivacinas nos EUA deram remuneração e projeção a quem as promoveu
Campanhas antivacinas nos EUA deram remuneração e projeção a quem as promoveu / foto: JOSH EDELSON - AFP/Arquivos

Campanhas antivacinas nos EUA deram remuneração e projeção a quem as promoveu

Um grupo antivacina fundado pelo candidato presidencial americano Robert Kennedy Jr. recebeu milhões de dólares compartilhando informações falsas durante a pandemia de coronavírus, revelou uma análise dos registros fiscais públicos realizado pelo site de investigação ProPublica.

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O coletivo Children's Health Defense (CHD) arrecadou cerca de US$ 46 milhões (R$ 242 milhões, na cotação atual) entre 2020 e 2022, quase dez vezes sua receita nos três anos anteriores à pandemia.

Coletivamente, o CHD e outras quatro organizações arrecadam mais de US$ 100 milhões (R$ 526 milhões) em dois anos.

Os especialistas acreditam que estas organizações prejudicaram a saúde pública ao questionar a eficácia da vacinação. Segundo eles, o dinheiro arrecadado teria sido usado para fortalecer sua influência política no âmbito jurídico e para se opor às diversas medidas sanitárias colocadas em prática nos Estados Unidos.

Pouco se sabe sobre a origem destas doações, e o CHD não respondeu às perguntas feitas pela AFP.

Mas o relatório revela "até que ponto a desinformação contra a vacinação e entorno da covid-19 deu grandes frutos", explica David Gorski, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estatal de Wayne, em Michigan.

"Uma coisa seria se esses grupos não fizessem mais do que vender charlatanismo, mas eles se tornaram politicamente influentes", afirma.

- Hesitação generalizada -

O CHD, com US$ 23,5 milhões (R$ 123,6 milhões) arrecadados em 2022, se tornou um dos principais sites de "medicina alternativa e natural" do mundo, segundo o portal de análise digital Similarweb.

O aumento do faturamento do grupo também foi acompanhado por uma alta nos salários de seus executivos. Kennedy, conhecido há anos nos Estados Unidos por promover teorias conspiratórias contra a vacinação, recebeu US$ 510 mil (R$ 2,68 milhões) como chefe da organização em 2022, mais de o dobro de seu salário anterior à pandemia, revelaram os registros.

Aos 70 anos, Kennedy, sobrinho do assassinado presidente americano John F. Kennedy, deixou temporariamente suas funções no grupo para focar na candidatura presidencial.

Sob sua liderança, a ONG afirmou erroneamente que as vacinas contra a covid-19 causavam altas taxas de mortalidade infantil e esterilidade. Estas teorias, desmentidas repetidamente pela AFP, provocam contudo uma hesitação generalizada à vacinação entre uma faixa da população e permitem o ressurgimento de doenças como o sarampo.

Outro grupo antivacina, a Rede de Ação de Consentimento Informado (Ican, na sigla em inglês), viu suas receitas dispararem durante a pandemia, passando de US$ 1,4 milhão (R$ 7,36 milhões) em 2017 para US$ 13,4 milhões (R$ 70,5 milhões) em 2022, segundo a investigação.

O fundador da Ican, Del Bigtree, contratado por Kennedy para gerenciar a comunicação de sua campanha presidencial, também criticou duramente as medidas sanitárias adotadas durante o confinamento.

A Ican não respondeu aos questionamentos da AFP.

- Agenda política -

Os doadores dessas organizações sem fins lucrativos costumam ter o anonimato protegido graças ao uso de intermediários, o que dificulta o rastreio do dinheiro, segundo os especialistas.

Mas Phil Hackney, professor de Direito e ex-funcionário do Serviço Federal de Impostos dos Estados Unidos, afirma que estas organizações poderiam perder seu status, porque uma ONG deve "apresentar uma base objetiva" para sua missão. "Esses grupos vão contra nosso código fiscal e são realmente prejudiciais", declarou à AFP.

Uma ONG não pode legalmente financiar uma campanha política, mas os fundos arrecadados por esses grupos têm sido usados para processar os conselhos médicos de vários estados americanos.

Em janeiro, por exemplo, o CHD empreendeu ações legais contra o conselho médico da Califórnia para impedir que punisse médicos acusados de fornecer informações falsas sobre o coronavírus a seus pacientes.

Segundo Dorit Reiss, professora de Direito da Universidade da Califórnia em San Francisco, esses grupos beneficentes, incluindo o CHD, estão entre os principais responsáveis pelos esforços legislativos para reverter as medidas adotadas pelas autoridades sanitárias durante a pandemia.

Reiss rastreou mais de 25 ações judiciais movidas pelo CHD desde 2019. Embora a maioria não tenha tido sucesso, ela explica que esses grupos continuam a promovê-las em suas plataformas.

"Essas atividades têm claramente uma agenda política", conclui.

I.Frank--MP