Justiça argentina busca ao menos 3 pessoas por assassinato de chefe de torcida
Pelo menos três pessoas são procuradas pela Justiça da Argentina pela morte do chefe da torcida organizada do Rosario Central e de seu colaborador, assassinados no sábado (9) perto do estádio do clube, um episódio que abala Rosário, uma cidade assolada pela violência do narcotráfico.
Andrés "Pillín" Bracamonte, de 53 anos, histórico líder da torcida do Rosario Central, e Daniel "Rana" Atardo, de 55, seu principal colaborador, estavam em uma caminhonete no sábado perto do estádio quando foram interceptados por "pelo menos três pessoas" a pé, informou o promotor de homicídios Alejandro Ferlazzo em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (11).
Eles foram atacados com mais de 11 tiros e cada um foi atingido com cinco, detalhou o promotor da província de Santa Fé, à qual pertence Rosário, 300 quilômetros ao norte de Buenos Aires.
O incidente ocorreu depois da partida na qual o Rosario Central perdeu em seu estádio, o Gigante de Arroyito, por 1 a 0 contra o San Lorenzo pelo Campeonato Argentino.
"Há muitas testemunhas presenciais", disse Ferlazzo, que pediu que elas se apresentem para colaborar, "garantindo extremo sigilo e segurança".
A promotoria ordenou recolher imagens das câmeras de segurança da região, testemunhas locais e a investigação de ataques anteriores nos quais Bracamonte havia sido vítima, para encontrar possíveis vínculos.
Ferlazzo disse que o clube Rosario Central "não tem nenhum registro fílmico nem externo nem interno próprio" desse dia.
Informou, por sua vez, que há investigações sobre as causas de um corte de luz que foi registrado na zona no momento do fato e acrescentou: "Pode ser um defeito normal que foi aproveitado pelos autores, mas não descartamos qualquer outra hipótese".
"Queremos ser prudentes e seguir trabalhando, para termos uma resposta o mais rápido possível", disse o promotor regional interventor Matías Merlo, preocupado com a possibilidade de que o crime gere represálias dentro de torcidas rivais em uma cidade assolada pela violência, em especial do narcotráfico.
Bracamonte, que também respondia a casos na Justiça por associação criminosa, extorsão e lavagem de dinheiro, esteve à frente da torcida organizada do Rosario Central durante 25 anos.
Sobreviveu a vários ataques a tiros nos últimos anos em fatos não esclarecidos em meio a confrontos atribuídos a um acerto de contas dentro da torcida organizada do Central.
"Ele foi alvo de 29 atentados", disse Pablo Cococcioni, ministro da Justiça e Segurança da província de Santa Fé, na coletiva de imprensa desta segunda.
O funcionário destacou que Bracamonte "estava com muito poucas medidas de autopreservação e até se exibindo, repetindo sua rotina e seus procedimentos uma e outra vez, embora estivesse proibido de entrar nos estádios".
Merlo considerou que esses episódios anteriores "denotam diferentes hipóteses de conflito".
- Negócios ilícitos -
O promotor Ferlazzo explicou que o caso de Bracamonte "excede a questão da gestão da torcida do Rosario Central e se estende para diferentes negócios ilícitos".
Na última década, a cidade de Rosario tornou-se a mais violenta de Argentina. Em 2014, houve uma explosão de homicídios (254) que, com oscilações, se manteve até 2023, com 260 vítimas anuais.
Os homicídios caíram em mais da metade desde o início do ano, fato que foi comemorado pelo governo, que endureceu as medidas de segurança.
"Vamos cuidar ao máximo do que conseguimos nestes 11 meses com o trabalho em conjunto para que os rosarinos possam continuar vivendo tranquilamente", disse Cococcioni.
Os críticos estimam que a redução de homicídios correspondia mais a uma trégua do que a uma solução de longo prazo.
O deputado provincial opositor Carlos del Frade comentou ao jornal local La Capital que a morte de Bracamonte "rompe o que era um hiato na queda de homicídios em Rosario".
"A recuperação das ruas se faz com trabalho, educação, e não com a presença das forças de segurança. Era uma encenação e isso ficou evidente com este assassinato", afirmou.
A violência do narcotráfico em Rosário ocupou as manchetes dos jornais devido às ameaças que receberam jogadores de futebol como Ángel Di María, ou familiares de Lionel Messi, ambos oriundos da cidade.
R.Schmidt--MP