Campanha presidencial é encerrada na Turquia com discursos contra curdos e imigrantes
A campanha para o segundo turno das eleições presidenciais na Turquia termina nesta sexta-feira (26), depois de duas semanas marcadas por discursos severos contra a minoria curda e os refugiados sírios.
O presidente em final de mandato, Recep Tayyip Erdogan, posiciona-se como favorito nas eleições de domingo, após liderar o primeiro turno com 49,5% dos votos, contradizendo as pesquisas e com uma diferença de 2,5 milhões de votos em relação a seu principal adversário, o social-democrata Kemal Kilçdaroglu (45%).
As últimas pesquisas apontam que o conservador Erdogan, de 69 anos, manterá esta diferença de cinco pontos no segundo turno. E, apesar de sua condição de favorito, o presidente enfrenta uma maior quantidade de abstenções.
Além dos que se abstiveram da votação no primeiro turno, Erdogan e Kiliçdaroglu buscaram apoio de eleitores do ultranacionalista Sinan Ogan, que obteve 5% dos votos em 14 de maio e acabou apoiando Erdogan.
Kiliçdaroglu, de 74 anos e que lidera uma coalizão heterogênea de seis partidos, endureceu seu discurso durante a campanha do segundo turno. Trocou os sorrisos e os gestos em forma de coração por um tom marcial e promessas de expulsão dos refugiados sírios "no dia seguinte à vitória". Também garantiu que a Turquia não será transformada em um "depósito de migrantes".
Com 3,4 milhões de refugiados sírios e centenas de milhares de afegãos, iranianos e iraquianos, a Turquia é o país que acolhe o maior número de refugiados no mundo, segundo dados oficiais.
- Notícias falsas e insultos -
Enquanto o candidato social-democrata endureceu o tom, Erdogan manteve seu discurso nacionalista e conservador e criticou duramente as minorias do país, como os curdos e as pessoas LGTBI.
"Ontem estavam adorando os terroristas", afirmou Erdogan, sobre a oposição, em um comício na quinta-feira.
"Sigo as campanhas eleitorais há décadas e nunca vi tantas notícias falsas e comentários insultantes e homofóbicos", lamenta Can Dündar, o ex-chefe de redação do jornal de centro-esquerda Cumhuriyet e que atualmente vive exilado em Berlim.
Menderes Cinar, professor de Ciência Política na Universidade Baksent, em Ancara, recrimina "a oposição por ser incapaz de apresentar sua visão sobre o futuro da Turquia e apenas criticar os fracassos do governo e o presidente".
Apesar de as duas últimas semanas de campanha terem sido pouco animadoras, os adversários de Erdogan estão confiantes em que a rejeição ao presidente conseguiu mobilizar seu eleitorado.
A legenda de esquerda e pró-curda HDP pediu o voto para Kiliçdaroglu, apesar das suspeitas de seu pacto com um pequeno partido reacionário e xenófobo.
"Temos que fazer Kiliçdaroglu presidente. Vamos deixar a Turquia respirar. Vão às urnas, votem", apelou no Twitter Selahattin Demirtas, um dos principais dirigentes do HDP, preso desde 2016.
C.Maier--MP