Irã e Venezuela reforçam cooperação em Caracas ante 'inimigos comuns'
O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, firmou diversos acordos com seu par venezuelano Nicolás Maduro nesta segunda-feira (12), em Caracas, com o objetivo de fortalecer a cooperação entre estes dois países - sancionados pelos Estados Unidos - diante de "inimigos comuns", nas palavras do mandatário iraniano.
"A relação entre Irã e Venezuela não é uma relação diplomática normal, mas uma relação estratégica entre dois países com interesses, visões e inimigos comuns", afirmou Raisi em um pronunciamento ao lado de Maduro, no qual estimou em 3 bilhões de dólares (R$ 14,6 bilhões, na cotação atual) anuais o comércio bilateral, cuja meta, segundo ele, é chegar, em princípio, a 10 bilhões (R$ 48,8 bilhões).
"Somos amigos em tempos difíceis", acrescentou, de acordo com um tradutor no palácio presidencial de Miraflores, no centro de Caracas.
Raisi, que não citou expressamente os Estados Unidos em seu pronunciamento, iniciou na Venezuela sua primeira visita à América Latina, que também o levará a Cuba e Nicarágua, todos países considerados "amigos".
"O Irã desempenha um papel estelar como uma das potências emergentes mais importantes do novo mundo", disse Maduro. "Juntos seremos invencíveis!", exclamou o governante socialista, com uma imagem ao fundo com as bandeiras de Venezuela e Irã fundindo-se em uma só.
Maduro sim mencionou os Estados Unidos e, em particular, fez críticas ao ex-presidente Donald Trump por um discurso recente do magnata durante um ato de campanha.
"Quando saí [do poder], a Venezuela estava a ponto de colapsar. Teríamos tomado conta dela e conseguido todo aquele petróleo", disse Trump. "Diante da confissão de uma parte, a contraparte não precisa de provas", reagiu Maduro.
Raisi e Maduro firmaram 25 acordos em diversas áreas: petroquímica, mineração, saúde, educação, entre outras, sem divulgar mais detalhes sobre esses convênios.
"Nos últimos dois anos, nossa cooperação com esses países se desenvolveu", disse Raisi em Teerã, antes de iniciar sua visita de cinco dias à América Latina. "Esta viagem pode ser um ponto de inflexão", acrescentou o dirigente eleito em 2021.
A República Islâmica é um dos principais aliados internacionais de Maduro. Os dois países, que são membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), também são alvos de sanções econômicas dos Estados Unidos.
Em 2020, em plena pandemia de covid-19, o Irã enviou 1,5 milhão de barris de gasolina e insumos para tentar reativar as refinarias da Venezuela, paralisadas em meio a uma grande crise de escassez.
Em fevereiro deste ano, Maduro recebeu em Caracas o ministro das Relações Exteriores da República Islâmica, Hossein Amir-Abdollahian, e visitou Teerã em junho do ano passado para firmar um acordo de cooperação de 20 anos para fortalecer sua "aliança".
A última visita de um presidente iraniano a Cuba e Venezuela remonta a 2016, quando Hassan Rohani esteve nesses países antes de participar da Assembleia Geral da ONU em Nova York. Seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad, foi recebido na Nicarágua em janeiro de 2007.
Em fevereiro deste ano, o presidente nicaraguense Daniel Ortega defendeu o direito do Irã a adquirir armas nucleares.
O.Braun--MP