Lula e Petro defendem novas eleições na Venezuela
Brasil e Colômbia sugeriram, nesta quinta-feira (15), a realização de novas eleições presidenciais na Venezuela, após a contestada reeleição de Nicolás Maduro e as denúncias de fraude feitas pela oposição, que diz ter vencido o pleito e rejeitou a proposta.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de servir ao chavismo, declarou Maduro vencedor das eleições de 28 de julho com 52% dos votos, mas até agora não divulgou os detalhes da apuração, alegando um "ataque ciberterrorista".
A oposição, liderada por María Corina Machado, publicou em um site cópias de mais de 80% das atas apuradas, as quais afirma provarem a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia, com 67% dos votos.
Os Estados Unidos insistiram nesta quinta-feira que é "absolutamente claro" que o opositor foi o vencedor das eleições, em um aparente recuo em relação a um comentário anterior do presidente Joe Biden de que apoiava novas eleições.
Em meio a um clamor mundial por uma apuração mais transparente, Brasil e Colômbia lideram os esforços para resolver a crise pós-eleições, que gerou protestos que deixaram 25 mortos e mais de 2.400 detidos, incluindo alguns menores de idade.
O México, que também estava envolvido na iniciativa, começou a se distanciar do tema, aguardando uma decisão da Suprema Corte da Venezuela sobre um pedido de Maduro para "certificar" o resultado da eleição.
O Poder Judiciário venezuelano é acusado de servir ao governo.
- 'Garantias totais' -
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu a convocação de novas eleições com "a participação de todos os candidatos e deixar que observadores de todo o mundo venham ver as eleições", conforme disse em uma entrevista, na qual afirmou que ainda não havia reconhecido os resultados.
Quando um jornalista perguntou a Joe Biden se ele apoiava novas eleições na Venezuela, o presidente americano respondeu que "sim". No entanto, um porta-voz esclareceu que o democrata "se referia ao absurdo de que Maduro e seus representantes não tenham sido honestos sobre as eleições".
O chanceler colombiano, Luis Murillo, recebeu em Bogotá seu colega brasileiro, Mauro Vieira, para discutir "temas centrais" da agenda bilateral, segundo Bogotá.
- 'Falta de respeito' -
Maduro já descartou a repetição das eleições em 31 de julho, três dias após sua proclamação como vencedor.
"Ganhei a partida de dominó e peço para repetir? É como se estivéssemos jogando dominó, eu ganho e 'que repita isso, por favor! Não, você já ganhou, tome uma cervejinha'", afirmou em uma coletiva de imprensa.
A oposição rejeitou de imediato a proposta. "As eleições presidenciais na Venezuela ocorreram em 28 de julho e foram amplamente vencidas por Edmundo González Urrutia", ressaltou o candidato em sua conta na rede social X.
Em coletiva de imprensa virtual com veículos chilenos e argentinos, María Corina disse que "propor desconhecer o ocorrido em 28 de julho é uma falta de respeito para com os venezuelanos que deram tudo".
"A soberania popular deve ser respeitada", continuou Machado, que está na clandestinidade. "As eleições aconteceram e a sociedade venezuelana se manifestou em condições muito adversas onde houve fraude e mesmo assim conseguimos vencer".
González também não aparece em público há duas semanas. Maduro pediu a prisão de ambos.
- Agenda legislativa -
O Parlamento venezuelano aprovou hoje por unanimidade a regulamentação das ONGs, uma iniciativa que ativistas temem que restrinja direitos civis.
A discussão do projeto, iniciado em janeiro de 2023, foi retomada na terça-feira, após um pedido de Maduro para acelerar o debate de um pacote de leis que também inclui a regulamentação das redes sociais e a punição ao fascismo, termo frequentemente usado pelo governo para se referir à oposição.
O chavismo tem maioria absoluta na única câmara legislativa, a Assembleia Nacional.
As ONGs são alvos frequentes de ataques por parte do poder. A lei exige, por exemplo, que se registrem em um cadastro local e façam uma "relação de doações recebidas com plena identificação dos doadores, indicando se são nacionais ou estrangeiros". O descumprimento pode acarretar multas de até 10.000 dólares (R$ 54,5 mil).
"A lei legaliza a perseguição à sociedade civil que denunciou abusos e acompanhou milhares de vítimas nesses tempos sombrios", criticou a ONG de direitos humanos, Provea, no X.
H.Erikson--MP