Israel acusa Hamas de descumprir pontos do frágil projeto de trégua em Gaza
Israel acusou o Hamas, nesta quinta-feira(16), de descumprir alguns pontos do frágil acordo de trégua e libertação de reféns na guerra de Gaza, e realizou novos bombardeios, aguardando sinal verde do Executivo para o projeto anunciado.
A trégua, anunciada pelos mediadores Catar e Estados Unidos na quarta-feira, entraria em vigor no domingo e envolveria a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, o que, uma vez concluída, encerraria a guerra de mais de 15 meses que deixou milhares de mortos em Gaza.
Mas o Gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que o Hamas "descumpriu partes do acordo em uma tentativa de obter concessões de última hora", em um comunicado.
Também advertiu que não se reunirá para aprovar o pacto "até que os mediadores tenham notificado Israel de que o Hamas aceitou todos os elementos do acordo", acrescentou o texto.
O principal líder do Hamas, Sami Abu Zuhri, negou as acusações, dizendo que "não têm fundamentos".
A Defesa Civil em Gaza disse que Israel bombardeou várias áreas do território palestino desde o anúncio do acordo, matando pelo menos 73 pessoas e ferindo centenas.
Após mais de um ano de impasse, as negociações indiretas entre Israel e o Hamas aceleraram nos últimos dias antes que o presidente americano, Joe Biden, seja sucedido pelo republicano Donald Trump na segunda-feira.
Vários países e organizações acolheram o pacto, que foi comemorado na Faixa de Gaza devastada pela guerra que eclodiu em 7 de outubro de 2023, após um sangrento ataque do Hamas a Israel que deixou 1.210 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Comandos islamistas também levaram 251 pessoas para Gaza, algumas já mortas. O Exército israelense estima que 94 ainda estão detidas, embora 34 estejam mortas.
Os "detalhes finais" do acordo ainda estão sendo elaborados, disse o Executivo de Netanyahu, que deve se reunir nesta quinta-feira para revisar e aprovar o projeto de lei.
- Sentimentos mistos -
Houve celebração em Israel e Gaza, mas também angústia. O morador da Cidade de Gaza, Fadl Naeem, disse à AFP que se sentia "muito feliz, mas, ao mesmo tempo, [sentia] uma profunda tristeza". "Perdemos netos, pais, irmãos, primos, vizinhos e nossas casas", disse.
Em Tel Aviv, o aposentado Simon Patya disse que sentiu "grande alegria" por alguns reféns terem retornado vivos, mas também "grande tristeza por aqueles que retornaram em sacos, e isso será um golpe muito forte, moralmente".
Dois líderes de partidos de extrema direita do governo de Netanyahu se opuseram publicamente ao acordo, incluindo o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, que o chamou de "perigoso", e o da Segurança Nacional Itamar Ben Gvir, que o chamou de "desastroso".
Os principais pontos do acordo foram revelados pelo primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman al Thani, e Joe Biden, cujos países, junto com o Egito, mediaram as negociações.
O acordo prevê uma primeira fase de seis semanas, começando no domingo, na qual um cessar-fogo será implementado, 33 reféns serão libertados e as tropas israelenses se retirarão de áreas densamente povoadas.
- Futuro político incerto -
A segunda fase, ainda em negociação, envolve a libertação dos demais reféns e a retirada das tropas israelenses, disse Biden.
A terceira e última fase se concentrará na reconstrução do devastado território palestino e na devolução dos corpos dos reféns mortos.
O primeiro-ministro do Catar explicou que um mecanismo de monitoramento administrado por Egito, Catar e Estados Unidos será criado no Cairo para garantir o cumprimento do acordo.
Biden garantiu que o pacto implicará um cessar-fogo "completo e total" na primeira fase e o "fim definitivo da guerra" na segunda. Também antecipou um aumento da ajuda humanitária para a população de Gaza.
A UE anunciou nesta quinta-feira um pacote excepcional de 123 milhões de dólares (742 milhões de reais) para enfrentar a crise humanitária no território palestino.
Atingida pela pobreza, pelo desemprego e pelo bloqueio israelense imposto desde 2007, a maioria dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza foi deslocada e vive em condições adversas.
T.Murphy--MP