Robert Kennedy Jr. em apuros para que Senado o confirme como secretário de Saúde dos EUA
Os democratas atacaram nesta quarta-feira (29) o indicado de Donald Trump para dirigir o Departamento de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., conhecido por seus comentários antivacina e suas posições contraditórias a respeito do aborto, durante uma tensa sabatina no Senado.
"Hoje, você jura que não é contra as vacinas, mas durante uma entrevista em um podcast em julho de 2023, disse, e cito: 'Nenhuma vacina é segura e eficaz'", afirmou o senador Ron Wyden.
Minutos antes, RFK Jr. havia garantido ao comitê de finanças do Senado que não era "antivacina", mas sim "a favor da segurança", uma declaração que provocou protestos.
O herdeiro da dinastia Kennedy também prometeu apoiar as opiniões de Donald Trump sobre o aborto, o que inclui revisar a segurança das pílulas abortivas.
"Concordo com o presidente Trump que cada aborto é uma tragédia. Concordo com ele que não podemos ser uma nação com moral se registramos 1,2 milhão de abortos por ano", afirmou, sem esclarecer a fonte dessa estatística.
Kennedy havia apoiado até recentemente o direito ao aborto, mas mudou sua postura para tranquilizar os republicanos, já que uma associação conservadora pediu que não o apoiassem por causa desse tema.
- "Uma virada rápida" -
"Nunca vi uma personalidade política dar uma virada tão rápida sobre este tema", criticou o senador Bernie Sanders, ícone da esquerda.
Robert Kennedy Jr. tem sido durante anos porta-voz de várias teorias da conspiração sobre as vacinas contra a covid-19 e sobre supostos vínculos entre vacinação e autismo.
Os parlamentares democratas o acusam de ter alimentado a desconfiança em relação à vacinação nas ilhas Samoa antes do surto de uma epidemia de sarampo que matou 83 pessoas.
"Ele se propôs a semear a dúvida e desencorajar os pais que têm que vacinar seus filhos para salvar suas vidas", afirmou Wyden com muita indignação.
A nomeação de RFK Jr. preocupa cientistas e profissionais de saúde em um momento em que a circulação do vírus da gripe aviária nos Estados Unidos reacende os temores de uma pandemia.
RFK Jr. também foi questionado sobre possíveis conflitos de interesse e seus ganhos provenientes de escritórios de advocacia que processam as empresas farmacêuticas.
Durante a sabatina, ele promoveu o programa "Faça a América Saudável Novamente" (MAHA, na sigla em inglês), uma adaptação de um slogan trumpista, que basicamente visa enfrentar a crise de doenças crônicas por meio de uma alimentação mais saudável e responsabilidade ambiental. Seus apoiadores o aplaudiram.
"Por que cinco dos meus filhos têm alergias?", perguntou Kennedy.
"Por que estamos vendo essas explosões de diabetes, artrite reumatoide, doenças neurológicas, depressão, todas essas coisas relacionadas com as toxinas no meio ambiente?", acrescentou.
- Tranquilizar os republicanos -
RFK Jr. alterou algumas de suas posições para tranquilizar os republicanos céticos.
Embora tenha defendido práticas agrícolas mais ecológicas, garantiu aos senadores dos estados rurais que qualquer mudança na política seria feita levando em consideração a opinião dos agricultores.
Aquele que foi, em sua época, candidato independente nas últimas eleições presidenciais, antes de se juntar a Donald Trump, pode enfrentar a oposição de senadores de ambos os partidos, responsáveis por sua ratificação no cargo.
Kennedy, no entanto, também pode obter o apoio de alguns senadores democratas devido ao seu compromisso com a luta contra os pesticidas e a favor de uma alimentação saudável.
O ex-democrata promove o consumo de leite não pasteurizado, temido pelas agências de saúde, e exige que parem de adicionar flúor à água potável, uma prática considerada um sucesso no combate às cáries dentárias, mas que divide a comunidade científica.
Se confirmado no cargo, o sobrinho do presidente assassinado JFK, de 71 anos, dirigiria uma agência federal que emprega mais de 80 mil pessoas e é responsável pela saúde de mais de 340 milhões de habitantes do país.
Suas críticas às agências de saúde dos EUA, a quem acusa de corrupção, também geram temores de uma ampla reestruturação da pasta caso seja confirmado.
Sua personalidade também divide opiniões.
Viciado em heroína na juventude, o elusivo membro da dinastia Kennedy contou durante a campanha várias histórias estranhas. Ele afirma ter um verme parasitário no cérebro e disse que deixou um filhote de urso morto no Central Park, em Nova York.
F.Hartmann--MP