EUA acusa México de aliança com cartéis e lhe impõe tarifas junto com China e Canadá
Os Estados Unidos acusaram neste sábado (1º) o governo do México de ter "uma aliança" com os cartéis do narcotráfico e impuseram tarifas alfandegárias ao país, assim como ao Canadá e à China, até que cooperem na luta contra as drogas.
Desde que retornou à Casa Branca em 20 de janeiro, o presidente republicano Donald Trump tem adotado uma diplomacia agressiva em sua luta contra os cartéis e as gangues, que foram declarados "organizações terroristas", além de endurecer as políticas contra a imigração irregular.
Trump havia anunciado que estabeleceria tarifas, uma de suas “palavras favoritas” para alcançar objetivos, mas agora as acompanha com acusações frontais.
"Esses cartéis têm uma aliança com o governo do México e colocam em risco a segurança nacional e a saúde pública dos Estados Unidos", afirmou a Casa Branca.
Em uma publicação na rede social X, a presidência anunciou a taxação em 25% dos produtos provenientes do México até que o país "coopere com os Estados Unidos na luta contra as drogas", alegando que os cartéis mexicanos "são os principais traficantes mundiais de fentanil, metanfetamina e outras drogas".
Enquanto a Casa Branca anunciava as medidas, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, participava de um evento público. Sem mencionar explicitamente o tema, reiterou sua posição anterior.
"Estou tranquila, com a cabeça fria, porque sei que a economia do México é muito poderosa, muito forte [...]. Não me sinto sozinha", comentou.
Com o objetivo declarado de "proteger os americanos da crise do fentanil", um opioide sintético 50 vezes mais potente que a heroína, Washington também impôs tarifas de 25% sobre produtos do Canadá (exceto hidrocarbonetos, taxados em 10%) e 10% a mais nas taxas já existentes para os bens chineses.
Segundo as autoridades sanitárias americanas, o fentanil é a principal causa de morte entre americanos de 18 a 45 anos.
"Há uma crescente produção de fentanil no Canadá, e foi apreendido na fronteira norte no último ano fiscal fentanil suficiente para matar 9,8 milhões de americanos", acusou a Casa Branca, que também relatou um recorde de travessias ilegais nessa fronteira.
- “Papel central” -
As tarifas adicionais sobre produtos da China continuarão até que haja "plena cooperação do governo chinês" na luta contra o fentanil, afirmou o governo americano.
Os Estados Unidos acusam o gigante asiático de desempenhar "um papel central" na crise e denunciam que o "partido comunista" que governa o país "subsidiou empresas químicas para exportar fentanil".
De acordo com Washington, "a China não apenas não consegue deter a fonte dessas drogas ilícitas, mas contribui ativamente para este negócio".
Com essas tarifas, Trump, que está passando o fim de semana em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida, acende a faísca de uma guerra comercial.
- “Grandes déficits” -
Os Estados Unidos enfrentam "grandes déficits" com os três países, mas a taxação generalizada traz riscos para o republicano, que venceu as eleições de novembro em parte devido ao descontentamento da opinião pública com os preços elevados.
Na sexta-feira, Trump indicou que algumas tarifas poderão entrar em vigor por volta de "18 de fevereiro".
Ele prevê "impor tarifas sobre microchips [...], petróleo e gás" e "muitas" sobre o aço. No futuro, produtos farmacêuticos e cobre também não estarão isentos.
O aumento dos impostos sobre importações deve "desencorajar o gasto dos consumidores e a realização de investimentos empresariais", opina Gregory Daco, economista-chefe da EY.
Daco calcula que a inflação aumentará 0,7 pontos percentuais no primeiro trimestre deste ano devido às tarifas, antes de diminuir gradualmente.
A Casa Branca nega essa previsão e acusa os meios de comunicação de mentir sobre o impacto da medida.
Cita um estudo de 2024 que, segundo a Casa Branca, conclui que as tarifas da primeira administração Trump "fortaleceram a economia americana" e "promoveram uma realocação significativa" em setores como a fabricação e a produção de aço.
O México e o Canadá, teoricamente, estão protegidos pelo acordo de livre comércio T-MEC, assinado durante o primeiro mandato de Trump e com renegociação prevista para 2026.
Portanto, a medida poderia abrir a porta para ações legais, tanto por parte dos países quanto das empresas afetadas, em virtude dos procedimentos de solução de diferenças previstos no T-MEC.
H.Klein--MP