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Cineasta que antes varria o Festival de Cannes agora exibe filme
Cineasta que antes varria o Festival de Cannes agora exibe filme / foto: Antonin THUILLIER - AFP

Cineasta que antes varria o Festival de Cannes agora exibe filme

Um varredor que limpava o tapete vermelho do Festival de Cannes há três décadas irá desfilar no sábado (18) entre as grandes estrelas, apresentando seu próprio documentário.

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"O adulto que sou segurou na mão do menino que fui para realizar esse sonho", explica à AFP David Hertzog Dessites, de 51 anos, que vai estrear "Il était une fois Michel Legrand" (Era uma vez Michel Legrand, em tradução livre), um documentário sobre o famoso músico francês.

Quando soube que tinha sido selecionado na seção Cannes Classics, dedicada a cópias restauradas de filmes antigos e documentários, Hertzog Dessites não podia acreditar. E uma lembrança veio à mente.

Em "uma manhã, por volta das 4h00, no meu uniforme de varredor [...] me estiquei no tapete vermelho, dizendo a mim mesmo 'voltarei aqui com meu filme'", lembra.

Durante sua infância, sua mãe o levava perto do Palais des Festivals para ver no tapete vermelho as estrelas de Hollywood, como Kirk Douglas ou Robert Mitchum.

Sua vida teve uma reviravolta aos 20 anos com a morte de sua mãe, funcionária municipal. A cidade de Cannes então lhe ofereceu um emprego de varredor.

- "Festival às escondidas" -

Tinha amigos que trabalhavam nos bastidores, permitindo este cinéfilo viver o "festival às escondidas", entrando nas sessões clandestinamente.

Uma manhã, em uma sessão das 11h00, ele entrou na exibição de "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino. "Vi Clint Eastwood [presidente do júri] colocar as mãos no rosto de tanto rir", relatou.

O falecimento de sua mãe foi um "verdadeiro impulso", que o ajudou a transformar "essa dor em energia positiva", contou Hertzog Dessites.

Comprou sua primeira câmera e começou a filmar de forma autodidata. "Eu invejava meus amigos na escola de cinema, e eles me invejavam porque meu ponto de vista não estava condicionado", explicou.

Em 1999, viajou para os Estados Unidos para filmar os fãs incondicionais de "Star Wars" que aguardavam ansiosamente a estreia do episódio I, "A Ameaça Fantasma".

"Os fãs em Hollywood, em Nova York, estavam loucos, esperavam em barracas perto dos cinemas para serem os primeiros a ver o filme", explica, sobre um documentário que na época chamou a atenção.

- Uma história "formidável" -

A história em torno do conhecido compositor francês Michel Legrand também é encantadora.

"Sua música embalou a gravidez de minha mãe, meus pais se conheceram quando foram ver 'Thomas Crown - A Arte do Crime' e compraram o disco de 45 rotações da música composta por Michel". A trilha sonora de "Yentl", com Barbra Streisand, foi "um choque" para esse cinéfilo e amante da música.

Sentado aos pés do piano "como uma criança junto à árvore de Natal" durante o recital, o cineasta disse no final: "Se eu existo, é um pouco graças a você". "Essa história é formidável, adoro", respondeu Legrand.

O compositor concordou em ser o centro de um documentário e lhe deu carta branca.

"Ele disse que não controlaria nada, e conhecendo sua exigência e a pessoa complexa que era, é o melhor presente que poderia me dar", afirma Hertzog Dessites.

O documentário conta os dois últimos anos do músico e relembra a carreira do compositor da trilha sonora de "Os Guarda-Chuvas do Amor", falecido em 2019 aos 86 anos.

T.Gruber--MP